INDÚSTRIA

Venda da Hering é o ocaso simbólico do ciclo dourado da indústria têxtil

28/04/2021 22:00:00

Venda da Hering é o ocaso simbólico do ciclo dourado da indústria têxtil
Foto antiga da linha de produção da Hering: o fim de um ciclo dourado na história de Blumenau

CARLOS TONET
Editor

 

A venda da Hering para o Grupo Soma encerra oficialmente o ciclo de ouro da indústria têxtil de Blumenau, que já foi reconhecida como a principal do País.

Até a metade dos anos 90, quem visse o ranking Melhores & Maiores da Exame veria com certeza essas sete empresas blumenauenses:

Artex 

Cremer

Dudalina

Hering

Karsten

Sulfabril

Teka

Juntas, empregavam mais de 50 mil pessoas.

Uma a uma, foram perdendo fôlego e se desintegrando nas últimas décadas.

A Sulfabril simplesmente quebrou em 1999.

A Artex se arrastou como pôde até ser comprada pela Coteminas em 1998.

A Teka pediu concordata em 2012 e sobrevive penosamente até hoje sob escombros de grandes prejuízos.

A Dudalina foi vendida em 2014 para a Restoque. Pouco tempo depois fechou todas as operações em SC. Sumiu sem deixar rastros.

A Cremer foi vendida em 2017 para o Grupo Mafra, hoje Viveo.

Endividada, a Karsten encolheu, fez um acordo de acionistas que resultou em novo comando e hoje tenta se reconstruir a partir de um recente acordo com credores.

A Hering esteve mal das pernas, também endividada, mas retomou fôlego e crescimento, navegando num mar de otimismo até por volta de 2015, quando começou a patinar.

Nesse meio tempo a cidade viu a consolidação da Altenburg, uma pequena fabricante de travesseiros e edredons que experimentou grande crescimento nos últimos 20 anos, faturando R$ 450 milhões em 2020, mas nada que se compare ao gigantismo das grandes empresas têxteis de outrora.

A venda da Hering traz mais impactos psicológicos junto aos saudosistas do que propriamente reflexos sociais e econômicos.

Há muito tempo sua produção havia sido transferida para outros estados e até mesmo para a China.

Blumenau sempre teve tradição industrial, com marcas muito verticalizadas que sempre apostaram na tradição e na sua base de consumidores fiéis.

A Artex, por exemplo, chegou a comprar fazendas produtoras de algodão.

É um modelo que não existe mais, num mundo em que as marcas se transformaram em puro marketing e tanto faz se forem manufaturadas em Blumenau, no México ou no Vietnam.

A agonia da indústria têxtil de Blumenau foi lenta e contínua, possibilitando que seus reflexos fossem diluídos ao longo dos anos.

Isso impediu que a cidade se transformasse numa nova Flint, permitindo um reposicionamento econômico impulsionado pelas empresas de software.

Os teares e as costureiras saem de cena para a entrada dos programadores e notebooks.