ARTIGO: O que o SXSW me ensinou e n�o estava nas palestras

07/05/2019 18:00:00

Por Luis Hufen�ssler Leigue, head of Business Transformation da Spin

ARTIGO: O que o SXSW me ensinou e n�o estava nas palestras

Por Luis Hufenüssler Leigue
Head of Business Transformation da Spin

 

Fui ao South by Southwest em Austin, Texas, ou apenas SXSW, pela primeira vez em 2013. Organizamos uma turma na agência, a CMC, e fomos em quatro pessoas. Era a primeira vez dos quatro em megafestivais como esse, que já começava com um ar “de responsa". Nem preciso dizer que foi uma aventura louca de ansiedades, pois há tanto conteúdo em palestras, painéis e ações acontecendo ao mesmo tempo que você fica transtornado.

Fizemos somente a trilha Interactive, que tratava de tecnologias, marketing - então na explosão dos apps e do marketing digital - e de novos jeitos de pensar a administração, a vida etc. E, com isso, ficou um gostinho de quero mais, afinal, o festival também tinha, naquela época, as trilhas de cinema e música.

Seis anos depois voltei ao festival. Demorei esse tempo todo para voltar por várias razões, que vão desde mudanças no meu papel na CMC, a qual hoje lidero, mas também por várias iniciativas empreendedoras e voluntárias que foram encabeçando a lista de prioridades. Enfim, sempre temos boas desculpas e, dessa vez, prometi a mim mesmo que iria buscar novas experiências, mais conhecimento e diferentes pontos de vista e deixei as desculpas de lado. E pensei comigo mesmo: “vou sozinho, já sou mais experiente, sei me organizar e vai ser demais”.

Acertei em uma só coisa: foi demais! Demais de bom, mas também demais de ansiedades, descobertas e novas ideias, assim como foi 2013. Havia me esquecido que, assim como eu fui ficando mais experiente (ou achei que estava), o resto do mundo também! O festival cresceu, com muito mais trilhas como Blockchain, Games e até Cannabusiness, os temas estão mais complexos e ricos, têm muito mais gente interessada. E, apesar de ter sido extremamente proveitoso, uma pergunta não saía da minha cabeça: Por que eu vim sozinho?

E essa foi uma das inúmeras lições que o South By (sim, chamam assim agora) me ensinou esse ano: para que fazer as coisas sozinho, se acompanhado é muito melhor? E faço esse paralelo com a jornada do empreendedor. Sem querer ser acadêmico, muito menos autoajuda, mas nós empreendedores caímos ocasionalmente na cilada de que estamos sozinhos e temos que tocar tudo desse jeito.

Não foram poucos os sinais recebidos - e compreendidos - durante minha jornada em Austin, afinal grande parte, senão todas, as palestras e painéis tinham como plano de fundo a necessidade de promovermos e respeitarmos a diversidade com a igualdade de condições para todos. Ter que decidir quais das 30 palestras iria ver em cada horário, quais que conseguiria encaixar nos horários para ir de um lugar para outro e, principalmente, escolher quais temas contribuíram de verdade foi muito difícil, pois sozinho eu cobriria apenas uma linha de pensamento, um caminho entre as trilhas. Se houvessem mais pessoas comigo, alinhadas por um propósito em comum e podendo combinar trilhas que se complementariam, seria muito mais rico e proveitoso.

Voltando à minha comparação, é exatamente o que acontece com os empreendedores. Criar uma empresa, ou uma iniciativa, é praticamente abraçar a ansiedade. Existem tantos caminhos possíveis, tantas possibilidades que, para uma pessoa ficar sozinha pensando nisso, é loucura ou, invariavelmente, levará a caminhos mais limitados do que se ela tiver com quem discutir, discordar, ou pelo menos fazer a provocação do “sim, e se...“.

Claro que, mesmo sozinho, haverá descobertas, aprendizados, pois tanto o erro quanto o acerto mostram caminhos novos para o empreendedor, mas, novamente, fica mais difícil enxergar qual o caminho propositivo se houver somente um ponto de vista. Invariavelmente, ele será tendencioso, ou até condescendente, para manter uma certa zona de conforto.

É aí que as ideias podem morrer ou avançar. Estar sozinho coloca o empreendedor em uma zona de conforto, onde ele pode se agarrar em suas crenças ou conceitos arraigados e, sem perceber, levar uma boa ideia à bancarrota. Ter pessoas que desafiem, incomodem, questionem, principalmente, porque se importam, é o elemento chave para levar as ideias para um nível acima ou mesmo desapegar e pivotá-las para algo mais coerente e desafiador.

Essas pessoas podem ser amigos, família, sócios, agência, aceleradora.... são vários círculos onde o empreendedor pode buscar apoio para tomar decisões, questionar-se e construir junto a sua jornada. E, assim, tanto ele quanto seus apoiadores crescerão, discordando, imaginando, elaborando novas alternativas para seguir em frente.

E, convenhamos, quantas vezes nós, no papel de líderes e empreendedores, nos deparamos com a confortável situação de decidir sozinhos, ao invés de seguir o caminho de compartilhar, trocar ideias. É mais sinuoso, é verdade, mas mais rico e com infinitas possibilidades.